
Durante o meu trabalho clinico, observei que o relacionamento abusivo independe de gênero (embora encontre amparo na vulnerabilidade social da mulher) e que pode ocorrer também em relações parentais (mães e filhas, pais e filhos) e em relações de amizade. A busca por reconhecimento e por oferecer repostas acertadas (a fim de evitar, por exemplo, ser desqualificado) torna-se um padrão autônomo e a pessoa o repete em novas relações.
No atendimento a mulheres vítimas de violência doméstica, ouço algumas justificativas que as fazem “se separar e reatar” o relacionamento. Você já sentiu, em alguma relação, que era amada e odiada? Ou que amava e odiava? Na Psicologia, chamamos de ambivalência afetiva quando o indivíduo sente duas emoções ou sentimentos opostos ao mesmo tempo. Em Psicanalise, essa contradição e dualidade de afetos é comum de se ouvir.
Percebo, comumente, ambivalência afetiva e confusão sobre o que é amor em mulheres que sofrem violência doméstica, em casos de pacientes com transtorno Borderline e em casos de pacientes com familiares “narcisistas”. Isso traz dificuldade de dar um basta na relação. Desse modo, se mantêm no relacionamento abusivo.
Por parte da pessoa agressora, são enviadas mensagens paradoxais que causam confusão mental. Suas palavras são de amor, mas seus atos são de ódio, desqualificação, falta de empatia.
Esse tipo de mensagem passa duas informações que se excluem. Somando essa mensagem confusa com a dependência emocional, a agredida buscara o reconhecimento do parceiro por vias diversas. Ela se pergunta: “o que devo fazer para, numa próxima, acertar?”
Ao mesmo tempo, fica impedida de refletir sobre a relação, já que está presa na busca por essa resposta e na busca por se proteger da violência.
*Fonte da imagem: FreePik